sábado, 15 de dezembro de 2007

átomo

quando era criança o nome prometeu parecia-me irónico. e imaginava o que teria ele prometido ao roubar o fogo aos deuses. ao entregar o fogo aos humanos. ao ser castigado por zeus. mais tarde, achei curioso que a história prometeu agrilhoado tivesse esse nome. e não prometeu campeão dos homens, prometeu herói audacioso, prometeu salvador, prometeu e cumpriu. um pouco mais tarde, enquanto ia conhecendo as inconstâncias das paixões, desconfiava do que as grandes histórias românticas pareciam sugerir. um grande amor é um amor trágico. os grandes amantes acabam na miséria, de coração e vida arruinada, revolvendo-se na solidão e em sangue coagulado. a mim, o amor faz-me lembrar os atomistas e a sua teoria, certeira em boa medida, muito antes de se poder microespreitar a matéria. quando se dividir a matéria em partes pequenas, e as pequenas em partes menores, e as menores em partes minúsculas, as minúsculas em ínfimas, as ínfimas em nanocoisinhas, nanocoisinhas em submigalhas e estas ainda mais umas vezes, quando se chegar à partícula constituinte de tudo, ao elemento essencial, talvez se encontre o amor. é difícil acreditar que a luz, os animais, as plantas, os minerais e os líquidos, as emoções, a imaginação, tudo, seja feito de outra substância. o amor. o nosso percurso será uma desconstrução do complexo, um caminho que atravesse o turvo, o opaco, e chegue à claridade e à luz.

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