sábado, 8 de dezembro de 2007

hélice

Amanhecer amanhã depende apenas da certeza de que estou viva. Sem mim, a manhã deixa de ser e vai embora deste mundo. Quando eu morrer, só eu não morro. Todas as coisas que passaram por mim, existentes, sonhadas ou inventadas, todas elas irão para onde? Cessarão minhas lembranças. Nenhuma dor vai doer igual. Vai sobrar espaço no mundo porque ao morrer, levarei tudo que através de mim era referido, ou narrado. O amor restará. Este, que te dedico por toda a existência. Teus olhos estarão tristes. Ou cansados? Na hora da morte também não nos deixam descansar. Enquanto eu estiver nesta viagem, só em ti seguirei e só a ti renderei graças. Estarei ao teu lado, como brisa, ou enfeitada de chuva fina. Em dias de luz e brilho, recordarás nossas férias em criança. Ao final da tarde, se os jasmins trouxerem lembranças a teu olfato, dirás a teu amigo, que sempre buscávamos este aroma para morar em nosso jardim. Vai amanhecer daqui a algumas horas aqui nesta margem. No teu país, a noite ainda cairá. Talvez apenas um cataclisma possa fazer com que os horários do mundo nos separem.

2 comentários:

mari celma disse...

Penso que uma mulher enfeitada de chuva é mais interessante que vestida de gaiola...uma mulher enfeitada de chuva não morre, vive de renascer: nas folhas, no abacateiro, na horta e bem linda na erva-doce. Uma mulher enfeitada de chuva é um presente, uma descoberta diária, é matéria de sonhos e sonhos nunca envelhecem!

Eliana Mara Chiossi disse...

Maricelma,

teu comentário já é um poema.
E, reitero (sempre o farei) o bem que me faz (e também a Anarresti) tua visita a nossa casa.

Abraço sereno