quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

atmosfera

olho para o carvão nos dedos e lembro-me do teu corpo. imagino a luz na tua pele, a forma como a sombra se refugia em cada socalco. quero tentar fixar no papel os teus contornos com o mesmo optimismo ingénuo de alguém que procurasse alcançar as estrelas. com o indicador espalhar as partículas de carvão, como fotões tornados tinta, depois de mergulhar os dedos no sol. quero conhecer a geometria do teu peito, das tuas ancas, do ventre, a textura do teu cabelo, da tua carne. descobrir de olhos fechados os caminhos da saciedade das mãos. beber em ti a luz e o cio. é tão pequeno o mundo. o céu está limpo e não vejo um único avião. fosse o meu desejo a corda de um arco e poderia disparar-me como a uma seta, atravessando os céus em velocidade e precisão. poderia dizer-te a que sabem as nuvens, dar-te um beijo com fôlego de horizonte. por enquanto, aguardo, colado ao chão. obediente à gravidade, conspiro já com pássaros, anjos e todas as coisas que voam. de noite sigo as instruções desses seres alados, ao tecer as minhas asas. deste lado do desejo, o noivado dos lábios amadurece num fruto túmido e solar.

1 comentário:

Anónimo disse...

:)
Que texto delicioso!

Abraço.
M