quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

queda

o mundo e eu entristecemos juntos, em outono e cinzento. caem-me folhas aos pés que me constrangem a locomoção. estou despido, ao frio, de lábios gretados e dedos azuis. o vento acentua-me a imobilidade, com o seu bafo de gelo. e ainda assim não confio nas raízes, demasiado tenras e superficiais para que me alimentem ou sustenham. o solo está perto. posso cair, no tapete das folhas da minha pele, sem estrondo ou perigo assinalável. demoro a ser húmus, os pássaros desprezam os meus frutos, acumulam-se as sementes. resta-me a memória das asas, as feridas indicando onde foram arrancadas. e o eco nítido do teu calor.

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