quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

tempo

Eu sou uma fruta. No ponto exato da colheita. Ao teu lado, mais, eu sou a árvore. Na dádiva permanente e sucessiva de seus frutos. Meu corpo é o caule, raízes, folhas, casca e a sombra que me completa como um conjunto coeso e útil. Tu és o homem, um Deus que cria, colore, cose, monta, ajusta. E narra. Quando me tocas, e sou fruta e árvore, retira de mim o objeto maduro, em seu ápice. Tuas mãos me tocam, sucessivas e ágeis. Destreza do passeio tátil. Solto meu gemido e torno-me gozo, grito e perda. Deixo meu estado de fruta presa à àrvore, pátria primeira, e sigo meu destino em direção à tua boca. Então, sou a ti incorporada. Eu, enquanto árvore, me preparo em vários estágios de fruta, para fazer parte do teu círculo, tua vida, meus sentidos.

1 comentário:

Anónimo disse...

Eliana,

escolhi um post menos movimentado (será?) para comentar, o que queria dizer independente do post escolhido: escreves muito bem e lindamente.

Agora, a razão por ter escolhido exatamente este: porque atemporal.