quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

ombros

gosto da tua relutância, sempre benigna, em te sentares a contar-me o teu dia, vendo-me cozinhar. sei que ardes de impaciência, julgando que os legumes devem ser cortados em rodelas mais finas, franzindo a testa quando divido em cubos a posta de salmão. sei que demora menos de um instante até que bebas o primeiro gole do vinho que te servi. e não tarda muito o aroma se desprende, como algo que se desembrulhou, e enche a cozinha com o teu sorriso aprovador. cada um coloca o prato do outro na mesa e fazemos ali um brinde à abundância. de manhã partirei no barco que restaurei, numa das primeiras marés. há sempre um ou dois peixes que o mar concede. e regresso ao fim da manhã desejando que esperes por mim para o banho. os teus cabelos em cascata sossegam-me os olhos da alma.

Sem comentários: