domingo, 9 de dezembro de 2007

fuga

A natureza quieta. Passagem triste do frescor para a deterioração. Morte interna de um objeto indefeso. Uma fruta, raptada de sua morada, o que pode almejar? Dentro em breve, de dentro de sua própria vida, de açúcar e cítricos, surge o intruso. Corroendo a oferta, desfazendo o contorno firme, útil, incisivo. Substância para os dentes. Tons de azedo ou doce sobre as línguas. Fartura e dedicação. Ou isso: destino certo e a visita dos insetos. Até que a fruteira não seja mais digna de qualquer pintor. Saudosa sedução dos odores. Até que a morte traga também o escândalo assimétrico da feíura. Caminho igual para aqueles que vivem estágios de frutas.

1 comentário:

mari celma disse...

Eu fiquei aqui,ouvindo o ecoar dessas suas palavras, eu fiquei aqui vendo um pouco de Borges nelas. E me lembrei do que ele disse certa vez:a lucidez cruel da insônia.
E foi assim: LUCIDA, que fiquei ao terminar "Fuga"...esse Carteiro a cada dia me encanta mais!