terça-feira, 27 de novembro de 2007

primeira carta

meu amor, esperava claridade, uma visão límpida, o contrário de tudo o que é turvo e pantanoso. mas a tua ausência ainda não me permite a lucidez dos despojados. é preciso encontrar o espinho e o seu fulcro de dor, compreendê-lo e aceitá-lo. muita água escorrerá na clepsidra da nossa história. e depois, espero, alucinado e crente, poderei ver a emoção como um rosto no espelho de um lago. perto de ti, é certo, nem sonho compreender, tudo é sentir. é aqui, no planalto do tempo, que vejo as cores do pôr-do-sol e o solo que percorri. e percebo que horizonte pode ser a irregularidade visível. por enquanto, caminhar tem pouco sentido se ao fim do dia sou eu que desaperto as sandálias e lavo dos meus pés o pó que trouxe de longe. e adormecer é poder esquecer que adormeço sozinho. amanhã acordarei para te beijar. e, noutro fuso e contexto, já estarás trabalhando, sabendo que não estou e que o beijo tarda. sonha comigo, que suspeito haver asas para os que não sossegam com a noite. seja o teu dia límpido e feliz. as minhas horas são cheias e ardentes. até breve, minha querida, cor do meu íntimo, amor claro, pássaro do meu sangue.

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