terça-feira, 27 de novembro de 2007

ébria

Espalhei tuas fotografias pela cama. Percorri cada traço, como se pontilhasse com minhas mãos teu corpo, lábios, sorriso, olhos. Amanhã sei que chegarás e até que o dia amanheça, meu único ofício é esperar. A noite é fria, e me protejo do desamparo dessa cidade estrangeira. O quarto é confortável, paguei uma taxa maior pelo café que receberei no quarto. Ouço nos programas de tevê meu idioma como se fosse outro. Que modo é esse de falar a minha língua? Este vocabulário estranho tem nomes que invadem meu arquivo. E me constrangem, me tornam outra no território que eu supunha conhecer, minha fala materna. O vinho aqui é melhor, mais costumeiro. Ainda faço cálculos para entender o câmbio, meu corpo se diverte com meus enganos. O fuso horário altera o humor. Aceito, então, que minha primeira manhã em Lisboa seja minha referência. Vai anoitecer lá, na outra margem, e as luzes matinais desta cidade estarão em desacordo com meus irmãos. Deixo os países. Volto para você, e nesta cama larga, antes que o dia chegue e um funcionário me avise da tua chegada, meu desejo se espalha e nosso amor já começa.

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