quinta-feira, 29 de novembro de 2007

exercício

Se a morte há de chegar, decidi freqüentar suas imediações, treinar o desempenho. Imagino que te encontrarei morto, é em minha direção que a flecha foi disparada. O fio da lâmina, branca, atravessa meu coração desde agora. Meu amor é tanto que se morres hoje, é como se morresse o filho. Dor que nenhuma mãe aprende. Então, posto neste lugar, és meu filho e não te verei morto. Antes, a sabedoria me leva. Então, faço os cálculos para o que fazer com este tempo que me resta. Invento modos de usá-lo, à exaustão, sem qualquer desperdício. Antes de eu morrer, quero usar a vida para ser teu abrigo. E ainda depois. Escreverei cartas para que você as receba, diariamente. Há muito trabalho a fazer. E este trabalho me ajuda a negociar com a morte, dando a ela um prazo aproximado, para que não chegue no improviso, para que não vista suas roupas nervosas. Nada de tragédia e sangue. Morrerei calma, e dirão todos de minha expressão, que era serena. Não vou morrer resistente, com semblante irritado. Tampouco terei ar de quem diz piedade. Não verei morto meu filho, não verei morto meu amado. E essa razão de minha morte a transforma na melhor barganha.

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