segunda-feira, 19 de novembro de 2007

aposentos

Esta casa nos faz arquitetos. Consideramos as marés e fincamos os mastros, nos pontos cardeais da planta baixa. Estudos diários sobre os ventos e eis a instalação dos moinhos. Ao redor, fios tênues, elásticos, para seguir sem exaltação e sem horrores as desobediências das águas. Ávidos coletores desenhando o interior de cada cômodo. Os cômodos são palcos. A direção do espetáculo é compartilhada. Quando chega minha vez, dirijo os movimentos do teu corpo para os prazeres da minha carne. As naus que passam trazem acenos dos marinheiros mal alimentados, sem zelo e sem higiene, a desejar o frescor desta pousada em alto-mar. Os jardins são suspensos. Temos nossa biblioteca, reunião de todas as nossas astúcias. Nos teus dias de diretor, fazes de mim tua brincadeira preferida. Chama as gaivotas que trazem fios de prata e enfeitam meus cabelos. Esta casa me faz tua. Digo o teu nome. Digo minha fome, que é você, meu homem.

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