domingo, 25 de novembro de 2007

domingo

E ele, então, descansou. Lavou as mãos, despreocupado. Asséptico, livre de culpas. Quis dormir, deitou-se. Incitou-lhe a réstia de lua, chegando através do vitral. Levantou e andou pela casa, a reconhecer ângulos e cômodos. Percorreu a fileira de livros e nada o interessou. Um chá lhe faria bem, mas somente ela sabia como preparar e servir. A memória trouxe o quadro vívido: era noite, o frio instalado desde há muito. A cama pronta, o filme que veriam juntos mais uma vez. Ela entrou no quarto, com a bandeja reluzindo em dádivas. Chá de maçã, polvilhado com a chuvinha de canela, leite aquecido, pães quentes, as frutas bem arranjadas e as florezinhas colhidas no jardim, agora há pouco. Toalhinha de renda branca, bordada com as suas iniciais, lembranças da noite de núpcias. Ela era a mãe da casa, o alimento da rotina, presença toda fresca, de estrelas. Nada poderia interromper a roda do destino, ele não seria nunca mais o mesmo. Sem ela, toda a criação voltava ao limbo.

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