quarta-feira, 21 de novembro de 2007

nuvem

com o meu conteúdo a forma ganha forma. encho o dia com ar, sémen e calor. deixei a obstinação a dormir. deve estar cansada a coitada, trabalha tanto. costas na erva, daqui vejo o céu. os ruídos mais irrequietos emigram, como asas diluindo-se pouco acima do horizonte. não vejo o teu rosto, substituindo-se às nuvens na abóbada celeste, com o tamanho de um sortilégio ou de um milagre. e a tua voz vai abdicando da persistência do eco. o teu cheiro no meu corpo já se misturou com o meu. é assim, sem a sofreguidão da minha mortalidade, que te sinto mais próxima. e deixo de dizer a tua pele, o meu cabelo, o teu olhar, as minhas mãos. não sobrevivem as divisões ou os muros. sem fechar os olhos, vou mergulhando em ti, como cantando de noite o estuário de uma estrela.

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