segunda-feira, 26 de novembro de 2007

estação

O trem me abandonou aqui. Deixei as malas, perto de mim, mas quase abandonadas. Tudo dentro delas é disperso. Tuas cartas, aperto-as, ao meu peito. Esta é toda minha bagagem. O corpo está desgovernado. Sem banho, sem higiene, sem descanso, as roupas cansativas, o cabelo desarmado. Meus pés não têm qualquer romantismo. Há fogo dentro de mim, e medos. Ah, você não há de querer-me, como antes. Tudo é tão perfeito nas nossas cartas. Estou mais velha. Talvez também menos engraçada. Horas demais, nesta viagem. Nenhuma paisagem me interessou neste continente, inaugural para meus olhos. O burburinho das pessoas que sabem para onde vão. Os encontros. Alguns, que esperavam, saem acompanhados. Há risos, choros, movimento. Não quero que você venha. Não há mais tempo para me transformar em estátua. Não saberia para onde voltar. O trem já partiu. Quando você surgir, em qualquer direção desta agonia, só então eu chegarei. Teu abraço trará de volta tudo que sou.

1 comentário:

mari celma disse...

De tudo já se falou quando a imagem é a de um trem, mas para mim foi a primeira vez que um trem abandona...meu Deus, abandona mesmo! Quem garante que o viajante saiba para onde ir? Que rumo anseia quem viaja? Saberá desse rumo o tal trem? Melhor deixar aqui só a impressão de que "Estação" me vez ir ainda mais onge do que o destino previsto.