segunda-feira, 19 de novembro de 2007

tesouro

A personagem dizia que o artista nunca é pobre. O saldo de minha conta bancária era reservado para gastos úteis. Uso exemplar da noção de poupança. Resguardo para as intempéries, proteção contra os ciclones, falências, barricadas, uma doença grave em família. Lembro daquela mulher de rosto cansado, tão disposta a ser apenas dedicação e entrega. Na pequena aldeia, todos de mãos dadas, cantavam rendendo louvores à lua e ao vinho. Olho os papéis espalhados na minha cama, lápis, bloco de anotações. A nossa colcha colorida, toda desenhada com rosas, agora coberta por cálculos e medidas. Jogo tudo no chão. Vejo o lençol azul, e alguma tatuagem de ontem. Sinais do nosso encontro. Os travesseiros têm seu cheiro. E eu sou apenas desejo. Pelo telefone, abuso dos limites bancários, perco a razão e o dinheiro guardado. Amanhã, antes da tua chegada, esta casa será teu palácio. E eu serei a mais rica de todas as mulheres desta aldeia.

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