segunda-feira, 10 de março de 2008

Carta de Lua Crescente

Eu preciso da moldura mítica. Preciso da moldura dos sonhos. Quero uma paisagem suave. O sol em seus momentos de doçura. Esta terra como um berço esplêndido para o amor. Ele sabe ler as estrelas. E navega em sua companhia. Eu sei ler as marés, o aroma distinto de cada estação que se inaugura. Chove muito e o cheiro doce da chuva boa, este cheiro me avisa da proximidade. Daqui a algumas luas, teus pés encontrarão aqui outra pátria. Sei que teu coração estará aos pulos, oscilando entre o medo e o alívio. Terás fome, sede e desejo de um colo de fêmea. Sei que tens uma fome quase brutal pelo corpo que imaginas. Sei que ao me ver, teu coração cansado vai encontrar força quase inumana para saltar. Mas o sono virá primeiro. Há quantas noites não dormes, meu amor. Tem sido um castigo esta viagem interminável. Já não tens a mínima alegria em olhar para o céu. Nos últimos dias, teus impropérios alcançam todos os deuses. Eu ainda não sei se esta mulher que venho desenhando, saberá com exatidão o cheiro da chuva que precede à chegada daquele homem. Ela, que entende os odores da floresta. Ela, que conversa com os animais. Ela que encontra nas ervas um livro de milagres. Na cerimônia do chá, ao fechar os olhos, quase toca o rosto branco e imberbe deste homem. Sabe que se aproxima o dia da chuva derradeira. E ajeita os cabelos e prepara óleos, enquanto observa as mulheres da tribo, tingindo os panos para a festa.

1 comentário:

mari celma disse...

Desde que o mundo se inventa, através das palavras, que imaginar um festa é visualizar a espera: pelos convidados,pela alegria, pela mesa cheia,a musica alta, por isso todas as civilizações criaram as suas festas e vi isso ao ler que as mulheres tingiam panos...que imagem mais plástica e cotidiana! Vc anda terrível, e eu sempre chapada quando passo por aqui! Muiito obrigada!