sábado, 9 de fevereiro de 2008

Conversas de Lua Nova

Eu era criança e ficava sentada aqui nesta pedra, olhando as mulheres da tribo nos seus afazeres. Uma sensação esquisita me tomava. Eu fazia parte da tribo e ao mesmo tempo via a todos como se fosse de outro lugar. Achava tudo tão bonito. Buscava o colo de minha mãe e dizia: mãe, aqui é um lugar tão bonito. E minha mãe dizia: é, é mesmo. Desde pequena eu via muita gente de outros mundos. Falava com eles. As crianças da tribo tinham um pouco de medo de mim. Fui crescendo na tribo, com uma missão. Eu era uma mulher especial. E já me consultavam para saber das novidades das próximas guerras. Cheguei a prever o ataque de tribos inimigas e tivemos tempo de nos retirar. Meu pai, desde cedo, me ensinava a ler as estrelas. Nas cerimônias do chá, sempre me ajudava a traduzir as visões. Apenas uma, que se repetia obsessivamente, ele não traduzia. Nem comentava. Toda vez que eu descrevia esta visão, ele se levantava, com ar de derrota, e ia embora. Passava dias sem falar comigo. E desde que me ouviu contando a aparição de um homem de pele branca, usando trajes estranhos, começou a fazer um ritual para que eu fosse a sacerdotisa. Na celebração de minha passagem, chorei o tanto que podia chorar. Daquele momento em diante eu estava fechada para ser mãe e mulher. Eu era a guardadora dos segredos da tribo. E meu coração estava selado.